15 de outubro de 2011

O vento




Hoje pude sentir o vento.


Há tempos que não sentia o vento. Há tempos que ele, o vento, ficara lá do lado de fora, roçando outras peles, outros rostos, secando outras lágrimas.


Hoje pude sentir como é bom sentir o vento. Aquela brisa fresca que afaga, acaricia, como as mãos de quem amamos.

Estava preso. Minha prisão não tinha portas nem janelas. Não se podia ver o sol nem a lua e as estrelas. Não podia sentir o vento.


Minha prisão era eu mesmo.


Trancado, trancafiado dentro do meu próprio ego, dentro das minhas próprias dores e sofrimentos. Agrilhoado em lamentações, afogado em lágrimas que não sei bem de onde vêm.

O vento me trouxe de volta à vida. Mostrou-me que fora da prisão há um sol que brilha, uma noite com lua e estrelas e amantes, uma chuva fina que molha a terra fazendo-a germinar. O vento me mostrou que meu ego, egoísta, narcisista é apenas ego.


Nada mais.


Que minhas lágrimas serão apenas lágrimas, que minhas dores serão apenas dores. Simples. Não há como mudar.

Agora, liberto, sinto o vento. Vejo o vento. Não observo a vida passar.


Hoje, simplesmente, vivo a vida!