6 de fevereiro de 2009

Fama


Eu queria ser reconhecido. Ver minha cara larga estampada nos jornais, nas revistas e TV.
Ouvir meu nome na boca de todos! Ser lembrado, comentado, amado...
Primeiro, comecei a desenhar. Desenhava bem pra caramba, rostos, casas, passarinhos, até uma montanha desenhei. Mas ninguém entendia minha arte. Era moderna. Só eu sabia seu significado. Não consegui nada, só uns ignorantes criticando.
Um amigo me disse que eu tinha o dom da pintura. Comecei a pintar. Eram traços fortes, gostava de misturar cores, adorava seu cheiro ocre. Fiz várias telas. Todas grandes e onipotentes. Ninguém quis expor... E olha que eu era talentoso: Pintava com os pés, com a boca, pintei até com os ouvidos! Era muito bom, mas ninguém entendia... Ignorantes!
Comprei uma Cannon profissional. Era uma puta de uma máquina fotográfica. Possuía muitos recursos. Comecei a fotografar. Confesso que no principio fiz umas fotos mixurucas. Depois, peguei o jeito. Minhas panorâmicas eram fantásticas! Uma vez retratei o bater de asas de um beija-flor, quase tive um orgasmo! Até que na fotografia tive uma oportunidade. Consegui colocar uma foto no jornal, mas os filhos da puta escreveram meu nome errado. Tentei por várias vezes, mas sempre me ignoravam. Idiotas, não sabem distinguir um verdadeiro artista.
Um dia, debaixo de um pé de ipê, tive uma inspiração. Peguei uma caneta e comecei a escrever. As palavras saiam depressa, minhas mãos tremiam, meu coração palpitava forte... Percebi que em poucos minutos já estava no final da última linha. Precisava colocar um ponto final, mas a inspiração era muito grande e não me deixava parar. Escrevi 10 páginas inteiras em poucos minutos. Assim que terminei de escrever, li o texto. Era lindo. Chorei.
Naquele momento havia descoberto meu verdadeiro dom: Escrever. Seria o melhor escritor do mundo. Ninguém mais criticaria minha arte. Já havia feito o esboço de como seria minha entrevista no programa do Jô. Falaria dos meus outros dons desprezados. Fitaria as câmeras de frente. Faria poses e mais poses. No outro dia, seria o comentário das manchetes de jornais. O texto era maravilhoso, contava a história de uma cachorrinha manca que se apaixonou por um gato velho. Era muito engraçado. Pena que ninguém entendeu a piada... Tolos, idiotas que não aprenderam a ler e interpretar.
Eu estava convicto que mostraria minha cara nos jornais, revistas e TV. Seria manchete por vários dias...
Então, matei o presidente!
Foi aí que alguém me disse: Reconhecimento não se pede, conquista-se!

O medo me fascina





A minha primeira sensação de medo é remota.
Não me lembro, mas deve ter acontecido quando sai do ventre de minha mãe. Dizem que chorei.
Sempre senti medo.
Quando criança, detestava ouvir estórias de fantasmas que minha avó contava. Mas ao mesmo tempo aquelas estórias bizarras me fascinavam. Queria ouvir até o final só para sentir os pelos dos braços arrepiarem.
Tinha medo do escuro, entretanto, adorava a ausência de luz. Adorava levar um susto com uma folha caindo sobre minha cabeça.
Tinha medo de ficar sozinho e ao mesmo tempo adorava aquela sensação de liberdade. De poder fazer o que tinha vontade sem ter alguém observando.
Gostava do vazio.
O tempo passou.
Na adolescência tive vários medos.
Tive medo de tomar um porre, chegar em casa bêbado e levar uma bronca. Aconteceram várias vezes. O medo passou.
Tive medo de pegar o carro escondido e arcar com as conseqüências. Capotei duas vezes.
Tive medo de transar e não saber o que fazer...
Ainda bem que ela sabia!
Talvez o pior de todos os medos acontecesse nesta fase: O medo de apaixonar. Aconteceu.
Ela era linda. Meu amor era correspondido...
Ela me deixou.
O medo ainda existe...
Por isso sempre me apaixono.
Agora vivo uma fase madura. Pelo menos é o que dizem.
Vivi o medo de errar. E ainda não passou.
Continuo errando sempre.
Outra vez, convivi com um medo que era o maior de todos: medo da morte.
Passou.
Estou vivo.
Não tenho mais medo...
Conheci pessoas e lugares.
Tive medo, confesso.
Trabalhei. O medo do fracasso era eminente.
Fracassei.
Chorei. Ainda temo...
Talvez seja por isso que ainda fracasso.
Encontrei um sentimento.
Tremi... Ainda não o tinha vivido.
Continuo com medo.
Tenho medo de chorar, de sofrer, de apaixonar, de amar.
Tenho medo do escuro, das pessoas, de lugares e sentimentos.
Tenho medo de fantasma, da fome e da guerra.
Medo de ladrão e dragão.
De vampiro e lagartixa.
De matar e morrer.
Medo do tédio, da ociosidade e de fazer caridade.
Tenho medo do poder e de não fazer.
Tenho medo de ficar velho...
Enraízado, sentado em uma poltrona vendo a vida passar como se fosse uma novela...
Tenho medo de tudo...
E o medo me fascina!

Aprendi...



Aprendi...

Aprendi que as limitações nos tornam mais fortes e mais flexíveis.
Que a falta de dinheiro nos ensina a pechinchar e eliminar o supérfluo.
Que o cumprimento de um desconhecido nos faz sentir observado e importante.
Que errar nos ensina a ter jogo de cintura.
Que as pessoas preguiçosas são as mais criativas, elas inventam artifícios para ganhar tempo e facilitar a vida.
Que quem muito reclama pouco produz. Fica preso às suas reclamações. Que engolir sapos não é tão ruim quando se têm objetivos. E devolver os saposengolidos é bom demais!
Que chorar não lava a alma, dá rugas.
Que sentir raiva estraga o fígado e produz mau-hálito.
Que um papo informal é muito melhor que uma conversa formal.
Que regras existem para serem quebradas, violadas.
Que um sorriso sincero é o mais belo gesto de amizade.
Que grandes amizades nascem em mesa de boteco.
Que um amor impossível nos faz enxergar a vida com outros olhos, nos motiva a encarar cada dia de forma única, nos permite observar os mínimos detalhes antes despercebidos pela nossa insensibilidade.
Torna-nos mais vaidosos e preocupados com nossa aparência e bem-estar.
Motiva-nos a ser sempre melhor, melhor em tudo, mais bonito, mais competente, mais atraente...
Até que encontremos um outro novo amor impossível...
E aí, começarmos tudo outra vez!
Que a vida é uma escola, e que seremos eternos alunos.
Que Deus é Deus, e o resto é resto.
Que viver é ser, e fazer os outros felizes!
E isso é bom demais!