6 de fevereiro de 2009

O medo me fascina





A minha primeira sensação de medo é remota.
Não me lembro, mas deve ter acontecido quando sai do ventre de minha mãe. Dizem que chorei.
Sempre senti medo.
Quando criança, detestava ouvir estórias de fantasmas que minha avó contava. Mas ao mesmo tempo aquelas estórias bizarras me fascinavam. Queria ouvir até o final só para sentir os pelos dos braços arrepiarem.
Tinha medo do escuro, entretanto, adorava a ausência de luz. Adorava levar um susto com uma folha caindo sobre minha cabeça.
Tinha medo de ficar sozinho e ao mesmo tempo adorava aquela sensação de liberdade. De poder fazer o que tinha vontade sem ter alguém observando.
Gostava do vazio.
O tempo passou.
Na adolescência tive vários medos.
Tive medo de tomar um porre, chegar em casa bêbado e levar uma bronca. Aconteceram várias vezes. O medo passou.
Tive medo de pegar o carro escondido e arcar com as conseqüências. Capotei duas vezes.
Tive medo de transar e não saber o que fazer...
Ainda bem que ela sabia!
Talvez o pior de todos os medos acontecesse nesta fase: O medo de apaixonar. Aconteceu.
Ela era linda. Meu amor era correspondido...
Ela me deixou.
O medo ainda existe...
Por isso sempre me apaixono.
Agora vivo uma fase madura. Pelo menos é o que dizem.
Vivi o medo de errar. E ainda não passou.
Continuo errando sempre.
Outra vez, convivi com um medo que era o maior de todos: medo da morte.
Passou.
Estou vivo.
Não tenho mais medo...
Conheci pessoas e lugares.
Tive medo, confesso.
Trabalhei. O medo do fracasso era eminente.
Fracassei.
Chorei. Ainda temo...
Talvez seja por isso que ainda fracasso.
Encontrei um sentimento.
Tremi... Ainda não o tinha vivido.
Continuo com medo.
Tenho medo de chorar, de sofrer, de apaixonar, de amar.
Tenho medo do escuro, das pessoas, de lugares e sentimentos.
Tenho medo de fantasma, da fome e da guerra.
Medo de ladrão e dragão.
De vampiro e lagartixa.
De matar e morrer.
Medo do tédio, da ociosidade e de fazer caridade.
Tenho medo do poder e de não fazer.
Tenho medo de ficar velho...
Enraízado, sentado em uma poltrona vendo a vida passar como se fosse uma novela...
Tenho medo de tudo...
E o medo me fascina!

Nenhum comentário:

Postar um comentário