28 de setembro de 2012

Preto


O vento adentrou pela janela aberta criando um pequeno caos. Folhas de pinturas vazias voaram, peças de argilas se estraçalharam, o cavalete tombou sobre o pote de tinta vermelha, pintando o chão outrora cinzento.

Os pelos dos braços se eriçaram. Continuei ali, imóvel, paralisado diante tanta beleza. Ela sorria. Um sorriso lindo. E naquele momento o universo inteiro girava ao seu redor, como a Terra ao redor do Sol. Embate entre beleza e solidão naquele sorriso retratado.

E agora, tento arranhar as nuvens. Grito. Levanto minhas mãos em oração. Choro. E vejo que todas as imagens que criei não passam um borrão preto. Uma mancha tatuada em qualquer lugar. Ainda choro. Tento, em vão, agarrar as cordas que me manipulam. Eu tento...

Do lado de fora algumas crianças brincam. Dão risadas. Estão rindo do quê? O cenho fechado. O corpo fechado. A alma fechada.

Tudo é um borrão.

De repente o mundo começa a girar. Tudo gira. Tudo conspira. Está girando rápido, mais rápido, uma espiral. Um redemoinho. Caio. Grito. Tento agarrar-me às cordas. 

O sol se põe. 

Chega a noite. 

Não há estrelas, não há lua. Não há nada. Só escuridão.

As mãos trêmulas tentam embalar os cacos, os restos... não há salvação. Não tem como consertar. Ela se foi.

Todo o amor se tornou mal. O mundo virou escuridão. Ah amor... ah amor mau que tatua de preto tudo que vejo, tudo que sou e tudo que serei. Amor mau. 

Mal de amor.

Eu sei que você não voltará. Sei que algum dia terá uma linda vida, que será uma estrela. Uma estrela no céu de alguém. Mas não no meu. Não no meu.

Tudo que vejo é um borrão. Uma pintura cinza, preta, fria. Tudo que sou não passa de ilusão.

Eu sou ilusão. Eu sou uma ilusão...


Ps: uma tentativa de releitura de Black, Pearl Jam.

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